segunda-feira, fevereiro 21, 2005
sábado, fevereiro 19, 2005
Nick
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
Georgie.
terça-feira, fevereiro 15, 2005
Mrs. Therese Benzie
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Sydney
sexta-feira, fevereiro 11, 2005
O dia começa aqui
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Malaa
Lê-se ‘malá’. É natural de Suva. Tem os olhos brilhantes e cabelo muito escuro. Gosta de falar. Está desempregado e passa os dias no centro da cidade com os amigos. Duas vezes por semana vai ao centro de emprego confirmar que não tem trabalho. Vive da ajuda de amigos e familiares.
Já trabalhou na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Sempre em empresas de construção civil. Agora diz que está cansado de andar de país em país. Queria encontrar uma mulher de quem gostasse, viver em Viti Levu, perto da irmã, perto dos sobrinhos.
Encontrei-o num bar de kava. Ensinou-me a preparar a bebida, explicou-me como se batem as palmas antes e depois de beber, esclareceu-me sobre a boa e a má kava.
Todos os dias ao fim da tarde senta-se no Dee Dee’s e bebe até à noite. Conversa com quem aparece. Música é um dos seus temas preferidos. Ouvem discos no computador do Fuata. Fazem cópias piratas. Prepara-se mais kava.
Quase sempre aparecem os Exodus, uma banda de velhos decadentes que tocam reagge e ska. Trazem num cd algumas gravações do último fim de semana. Ouvem, pedem opinião, bebem duas taças e vão embora. Melhorar os arranjos, regravar a bateria, acrescentar um solo de guitara.
Malaa fica sempre. Quando as lojas do outro lado da rua fecham as portadas põe um banco no passeio e pede a Fuata para preparar mais um pote de bebida.
Hoje encontrei-o deitado no jardim, perto da biblioteca. Estava muito calor. Tinha passado a manhã no centro de emprego.
Fuata
quarta-feira, fevereiro 09, 2005
O cheiro de Suva
Não há vinhas nas Ilhas Fiji, mas o cheiro de Suva tem o aroma das uvas maduras, em Setembro.
Em certas ruas é mais intenso e sobrepõe-se aos escapes dos autocarros velhos, a diesel, que circulam às dezenas; sobrepõe-se ao cheiro a comida, a caril, que sai dos quiosques junto ao rio; mistura-se com o cheiro a papaia acabada de colher que sai do mercado.
Parece que o cheiro a uvas vem das montanhas e aterra aqui, no meio da cidade, antes de chegar ao mar.
A cidade arrefeceu ligeiramente enquanto estive em Tuvalu.
terça-feira, fevereiro 08, 2005
Suva
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
As crianças
As aulas ainda não começaram. Passam as horas de menos calor a jogar à bola no relvado ao lado do aeroporto. Os mais velhos jogam volley num campo improvisado numa das pontas da pista de aterragem.
Ninguém em Tuvalu viu um jogo de futebol a sério. As bolas que usam para jogar já nem retêm o ar e rolam mal pela relva. Sabem os nomes de quase todos os jogadores importantes e entusiasmam-se quando digo que sou português, da Europa.
Querem jogar comigo e acreditam que em Portugal toda a gente é como o Figo ou como o Cristiano Ronaldo. Jogo à baliza e depressa desistem de mim e das minhas capacidades futebolísticas. Sento-me a ver.
Cansam-se depressa de jogar uns com os outros, sentam-se comigo, fazem piruetas e deixam-se fotografar enquanto fazem caretas.
São os meus primeiros amigos tuvaluanos.
As aulas vão começar na próxima semana. Todos querem ir para a escola e depois para a universidade, especialmente as raparigas.
Quando está demasiado calor para jogar à bola, passam as tardes na praia. A tomar banho, a apanhar peixes e a brincar com garrafas e latas vazias.
domingo, fevereiro 06, 2005
Kaiau
Eddie, o lobo do mar
Tem mais de 60 anos e chama-se a si próprio lobo do mar. Não põe nenhum sentido romântico na expressão. Gosta de mergulhar na lagoa ou de pegar num barco de alumínio e ir para o outro lado do atol desafiar as ondas que vem do Pacífico, procurar tubarões, comer coco e beber cerveja deitado numa praia deserta.
Conhece toda a gente em Tuvalu. Trabalhou até há dez anos em vários barcos, atracou em todos os portos. Fala das cidades como se de portos se tratasse. Esteve várias vezes em Lisboa ‘e noutro porto mais a norte, perto de Espanha’.
Não tem tatuagens, braços grossos ou barba grande. Não fuma cachimbo.
Nasceu em Tuvalu, é polinésio e gosta de estar quase reformado em Funafuti. ‘É um país calmo, pacífico, quente.’
Sorri quando lhe pergunto o que é que vai acontecer às pessoas se as ilhas desaparecerem. ‘Não vão desaparecer. Isto não pode desaparecer’. Não acredita e nem sequer se assusta com a meia dúzia de jornalistas e fotógrafos que chegam a Tuvalu para filmar e fotografar as marés altas que vão inundar o país. ‘Isto já acontece há mais de cem anos e só agora é que se lembraram do aquecimento global!’
Eddie gosta das pessoas, não tem medo das marés, mas admite que a um tsunami seria difícil sobreviver.
Conhece de cor os corais e as correntes da lagoa, conduz o pequeno barco de alumínio por cima das ondas em direcção ao outro lado da lagoa. ‘Lá há mais peixes, menos pessoas. Não há cerveja. Ainda bem que trouxemos uma geleira cheia.’
Funafala
Podia ser a palavra para paraíso em tuvaluano. Soa bem. É fácil de memorizar.
Fica no atol de Funafuti, no outro lado da lagoa. Num pequeno barco de Funafalaalumínio demoramos pouco mais de duas horas a lá chegar.
Vivem lá cerca de 20 pessoas. Comem coco, algumas raízes de plantas que não sei nomear, algum peixe e bananas.
Não há mais nada em Funafala, ninguém lá vai durante meses e mesmo nas marés altas fica fora dos artigos sobre o aquecimento global.
Tem um areal a toda a volta e muitos corais. Água verde e azul, quase quente. O barco fica atracado na areia e pode-se nadar até uma outra pequena ilha que fica em frente. Uma ilha com três coqueiros e alguns arbustos.
Não há lixo em Funafala, não há o lixo que não faz parte da natureza: algumas folhas das árvores, cascas de coco espalhadas no areal e um ou outro pedaço de madeira que deu à costa recentemente.
Quase tudo em Tuvalu é assim. Só Funafuti está longe do paraíso.
O paraíso
Teoricamente ninguém em Tuvalu sofre mais privações do que as impostas pela insularidade. O estado tem uma economia oficialmente saudável, em comparação com as outras ilhas do Pacífico, que assenta nas exportações de peixe, na filatelia, nos direitos de utilização do domínio .tv e nas ajudas financeiras do governo da República da China (ou Taiwan).
O que se vê é ligeiramente diferente. As pessoas vivem em casas de madeira podre com telhados de folhas de coqueiro. Casas com uma única divisão e um anexo para armazenar cocos e criar porcos e galinhas. Algumas casas têm depósitos de água, mas a maior parte usa depósitos comunitários. Com as casas de banho acontece o mesmo.
Grande parte das casas estão assentes em pilares por cima dos lagos criados pelas chuvas, usados durante muito tempo pelos ingleses para armazenar e produzir asfalto. Estes lagos servem agora para armazenar todo o tipo de lixo, incluindo os esgotos das casas. As pessoas que vivem nestas casas, aproveitam a acumulação de latas e garrafas para construir pontes de acesso às casas e ao outro lado dos lagos.
.
O nível de instrução é bastante elevado. Há muitas crianças e todas elas vão à escola em Funafuti. Os tuvaluanos em idade universitária, facilmente vão estudar para a Universidade do Pacífico Sul, em Suva, ou para uma universidade neo-zelandesa.
.
Ninguém em Tuvalu parece interessado no fenómeno .tv. Tudo o que se escreveu sobre as receitas da venda do domínio, toda a fama internacional do país depois disso, pouco ou nada interferiu na vida dos tuvaluanos.
.
Também ninguém acredita que o país se está a afundar. Não há evidências disso e parece ser melhor ignorar do que viver angustiado e sempre a pensar no aquecimento global, num país onde a temperatura raramente desce dos 30 graus. Mesmo os estrangeiros que cá vivem preferem pensar nos outros problemas do país.
No entanto houve contactos do governo com os países vizinhos, para averiguar da disponibilidade destes em acolher a população em caso de necessidade.
.
O turismo traz a Tuvalu cerca de 50 a 70 pessoas por ano e essas pessoas são as únicas que se preocupam com a poluição. Talvez por ser impossível tomar banho na bonita lagoa de Funafuti.
Tuvalu não tem espaço para construir uma estação de reciclagem ou de tratamento de resíduos. Nem dinheiro, segundo fontes oficiais. Se tivessem dinheiro teriam de a construir numa das ilhas que são reserva natural.
O custo de transportar o lixo de barco para outro país também não compensa e não há muitos países interessados em receber latas de cerveja e garrafas de plástico de Tuvalu.
Entretanto o solo de Funafuti vai sendo substituído por uma mistura de coral, cocos e folhas de coqueiro, garrafas de plástico, vidros, latas, cartões e todas as substâncias que chegam de barco e avião e não saem mais do atol.
A lagoa é muito grande e aberta. Tem cerca de 25 km por 18 km, mas é calma e as ondas não movimentam muito a água. A espuma junto às praias de coral não dá muita vontade de tomar banho.
.
A grande diferença entre Tuvalu e os outros países do Pacífico Sul é o facto de em Tuvalu não haver resorts turísticos. Aqui é tudo real. As casas em cima de estacas sobre a água são de pessoas que não conseguiram construir noutros locais, não são unidades hoteleiras.
Não há espaço para resorts, não há praia suficiente para bungalows.
Os paraísos precisam de muito espaço: espaço para paraíso e espaço para casa das máquinas.