O Bairro do Aleixo - Digressão Mundial

domingo, fevereiro 06, 2005

Eddie, o lobo do mar

Tem mais de 60 anos e chama-se a si próprio lobo do mar. Não põe nenhum sentido romântico na expressão. Gosta de mergulhar na lagoa ou de pegar num barco de alumínio e ir para o outro lado do atol desafiar as ondas que vem do Pacífico, procurar tubarões, comer coco e beber cerveja deitado numa praia deserta.

Conhece toda a gente em Tuvalu. Trabalhou até há dez anos em vários barcos, atracou em todos os portos. Fala das cidades como se de portos se tratasse. Esteve várias vezes em Lisboa ‘e noutro porto mais a norte, perto de Espanha’.

Não tem tatuagens, braços grossos ou barba grande. Não fuma cachimbo.

Nasceu em Tuvalu, é polinésio e gosta de estar quase reformado em Funafuti. ‘É um país calmo, pacífico, quente.’

Sorri quando lhe pergunto o que é que vai acontecer às pessoas se as ilhas desaparecerem. ‘Não vão desaparecer. Isto não pode desaparecer’. Não acredita e nem sequer se assusta com a meia dúzia de jornalistas e fotógrafos que chegam a Tuvalu para filmar e fotografar as marés altas que vão inundar o país. ‘Isto já acontece há mais de cem anos e só agora é que se lembraram do aquecimento global!’

Eddie gosta das pessoas, não tem medo das marés, mas admite que a um tsunami seria difícil sobreviver.

Conhece de cor os corais e as correntes da lagoa, conduz o pequeno barco de alumínio por cima das ondas em direcção ao outro lado da lagoa. ‘Lá há mais peixes, menos pessoas. Não há cerveja. Ainda bem que trouxemos uma geleira cheia.’