O Bairro do Aleixo - Digressão Mundial

sábado, fevereiro 05, 2005

A motorizada

É vermelha. Aluguei-a por dez dólares com o depósito cheio. Percorri três vezes a ilha, para ter a certeza de que não me escapa nada.
Para norte a ilha curva ligeiramente a seguir à pista do aeroporto. Tem cerca de 5 quilómetros de comprimento e a largura varia entre os dez e os quarenta metros. A partir do porto quase que não há casas. Algumas pocilgas com porcos, muitas sepulturas, um bar com cerveja, uma estrada com coqueiros a terminar numa lixeira bastante grande.
Para sul, a ilha é mais pequena e não é muito diferente. Tem algumas casas de construção recente, os antigos edifícios do governo parcialmente abandonados e a mesma estrada, com coqueiros de ambos os lados, a terminar noutra lixeira.
A parte maior da ilha é o centro, onde está o aeroporto, o novo edifício do governo, o hotel, a pensão Filomona e o tribunal. Tem mais de cem metros de largura e forma um cotovelo virado para o Pacífico. De resto toda a ilha está mais ou menos voltada para a lagoa de Funafuti e ignora o oceano. É do lado do Pacífico que vêm as tempestades.
.
Tuvalu tem onze mil habitantes. Quase todos vivem no atol de Funafuti e quase todos nesta ilha, Funafete. Os outros atóis são desertos e dentro deste há apenas mais uma ilha habitada. Todas as outras ilhas que se vêm do lado da lagoa são reservas naturais.
O espaço para as pessoas é limitado. O espaço disponível para os resíduos dessas pessoas é ainda mais limitado. É demasiado caro exportar o lixo tuvaluano e nenhum país o quer receber.
As criações de porcos são feitas em estruturas construídas em cima da água da lagoa, os mortos são enterrados ao lado das casas, junto à porta de entrada ou no pedaço de terra onde as crianças brincam.
Os poços construídos pelos ingleses para o fabrico de asfalto são usados como depósito de todo o tipo de lixo e de resíduos. A água desses poços é negra e liberta um calor húmido e mal cheiroso.
.
A vantagem da minha motorizada vermelha é poder levar-me várias vezes de uma ponta da ilha até à outra, para eu ter a certeza de que nada me escapou.