O Bairro do Aleixo - Digressão Mundial

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O advogado do povo

Tem cerca de trinta anos. É australiano e toda a gente o conhece. Chegou há pouco mais de um mês para substituir o anterior advogado do povo que esteve cá dois anos. Tem cabelo loiro comprido e usa sempre uns calções azuis de surfista, mesmo quando está no tribunal.
O tribunal, quando há julgamentos, funciona num pátio ao lado do edifício do aeroporto. É um terraço quadrado, pavimentado com cimento. Tem cerca de quinze metros de lado e foi coberto por um telhado de madeira e folhas de coqueiro. Está rodeado por um corrimão de madeira com uma abertura em cada um dos lados, para as pessoas entrarem. Também é usado como ponto de encontro, abrigo da chuva e do sol e recinto desportivo para as crianças.
Antes da sessão começar chegam dois polícias fardados e uma mulher. Organizam meia dúzia de mesas e distribuem uns papeis. Numa das mesas estende-se a bandeira de Tuvalu.
Alguns minutos depois chega o advogado e o arguido. O advogado combina alguns pormenores com os polícias e com a mulher.
Dão início à sessão com a apresentação dos factos e com algumas questões ao arguido. Duas dezenas de pessoas interessadas no acontecimento debruçam-se no corrimão do terraço para ouvirem melhor.
O advogado do povo é uma figura contratada pelo governo de Tuvalu, normalmente é um jovem advogado neo-zelandês ou australiano. Passa cá dois anos a defender os populares que por alguma razão precisam de ir a tribunal e não têm dinheiro para contratar um advogado.
Não há muito trabalho nem crimes graves. A maior parte dos casos são reincidências na condução de motorizadas sem licença, questões de terrenos e de heranças.
A prisão de Funafuti tem sete presos. Estão numa casa do outro lado da pista de aterragem. Pode-se lá ir falar com eles, jogar futebol ou volei. Como são poucos precisam de mais pessoas para completar as equipas. Os polícias responsáveis pela prisão são só dois.
Não consegui saber como terminou o julgamento.