Kungka
Ou uma rapariga chamada Rapariga. Nasceu em Alice Springs. Mãe aborígene, pai branco. A mãe pinta telas e tapeçarias, estabeleceu-se em Alice Springs há alguns anos para vender os seus trabalhos. Não virou costas à comunidade e foi seguida por mais cinco artistas. São o primeiro rosto de duas aldeias aborígenes a alguns quilómetros da cidade.
Kungka nasceu por acaso há vinte e três anos. Pouco tempo depois da mãe se ter mudado para a cidade. Viu as ruas a crescer, os hotéis a serem construídos, a cidade a ficar maior. Acompanhou, ainda jovem adolescente, os problemas entre o governo australiano e a comunidade aborígene. Festejou com a mãe os acordos de cooperacção estabelecidos para a preservação das aldeias e dos locais sagrados e para a criação do Kata Tjuta National Park. Cresceu. Ficou adulta. Ainda não se apaixonou.
Conheceu mal o pai. Recorda-se apenas de o ter visto algumas vezes há mais de dez anos. A mãe mostrou-lhe algumas fotografias e fala muitas vezes dele. Vive em Melbourne e tem outra família.
Kungka orgulha-se do seu sangue, da sua fisionomia mestiça, dos olhos verdes. Fala inglês e meia dúzia de dialectos aborígenes.
Trabalha no Centro Cultural de Kata Tjuta e gosta de falar sobre a sua tribo e sobre a sua vida. Aconselha livros, explica os desenhos expostos nas paredes. Sorri muito.
Sorri quando lhe digo que está muito calor para fazer caminhadas em Kata Tjuta, que já foi suficiente ver Uluru, que não deviam instituir locais para ver o pôr e o nascer do sol. Que era melhor falar com ela do que tirar fotografias no deserto ou subir ao Kings Canyon.
Kungka é uma mulher bonita.